quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os Famosos e os Duendes da Morte



Nunca encontrei uma definição de arte que me fosse suficiente. Mesmo algumas delas sendo belas, nenhuma me tocou fundo e eu nunca fui capaz de ler nada que realmente dissesse o que é arte. Tudo bem, não faz mal... Já faz algum tempo que eu descobri que algumas coisas não foram feitas para serem explicadas, definidas ou escritas, e sim, para serem sentidas. E foi exatamente isso o que eu senti quando assisti e li "Os Famosos e os Duendes da Morte", livro de Ian Caneppele. 

Esse filme, para mim, é a mais pura arte. Ele tocou o meu âmago de uma maneira que pouquíssimos filmes fizeram (isso, vindo de uma pessoa cinéfila, merece ser enfatizado). Fiquei sem ar, completamente sufocada, e sem saber exatamente o que fazer, falar ou pensar quando acabei de assistir essa obra prima. Parecia que toda a minha vida e os meus sentimentos mais profundos e ocultos estavam ali, expostos, bem diante dos meus olhos. Como alguém poderia arrombar as minhas fechaduras interiores de um forma tão brusca e expor para quem quisesse ver? Me senti completamente despida ao assistir a esse filme, e então, decidi ler o livro para complementar inexplicável viagem sensorial a qual fui submetida. E o sentimento foi duplicado.

A arte é isso; ela exprime o inexprimível. Ela descostura o que já está costurado e não lhe permite esboçar reações verbalizáveis. É exatamente isso que penso e sinto quando me lembro do filme e do livro. É uma daquelas obras que engolem para dentro delas.



Eu terminei de ler o livro, e grifei algumas citações que descamaram minha pele, que me serviram de espelho e, até mesmo, de orientação. Gostaria de compartilhá-las; quem sabe elas não tocam alguém mais?



"Naquela cidade cada um sonhava o segredo.
O menino sem nome conheceu o garoto sem pernas. Ele não tinha pernas e, mesmo assim, não precisava de ninguém para ir embora.
Eles tentaram. 
O garoto sem pernas mostrou o mundo como conhecia. O que não tinha nome, embarcou. Como quem nunca mais quer voltar. 
Por um tempo eles olharam para a mesma direção. 
Ele nunca lhe deu um nome.
Ele nunca lhe trouxe as pernas. 
O que para um era sina, para o outro era o mistério. 

Por algum tempo, eles poderiam ter andado juntos sobre o mesmo trilho. Mas nunca seriam esmagados pelo mesmo trem. "

"Assim passavam as horas: deitado na cama, olhando para o teto e escolhendo, entre todos os eus, aquele que melhor eu seria. Bastava permanecer parado para as estrelas acordarem ao primeiro sinal de escuridão. Aquele era o meu segredo: permanecer imóvel para viver o que não existia - o que ainda não e o que nunca mais."

"Tudo tão depressa. Não é preciso ser velho para sentir o tempo." 

"Havia os que moravam lá. Eles existiam, mas não. Vivíamos na mesma cidade, mas não. Havia vida longe de lá, e lá, no longe, alguém vivia a minha."

"Estar perto não é físico". 

"Longe é o lugar onde a gente pode viver de verdade." 

" A vida contém surpresas nos lugares onde não estamos".

"É sempre possível ficar mais sozinho. Certo como envelhecer. Como perder os dentes. Como cair a pele."

"Eu não entendo nada. Nem de Química. Nem de mim. Nem nunca vou entender. Eu nunca quero entender."

"Trechos de diálogos para sempre salvos na nossa memória. Longas frases deletadas para sempre antes de serem lidas." 

"Nossas lágrimas caíam sem chorar."

"As horas ainda não eram para sempre a nossa última."

"Eu e tu e as noites que não tivemos."

"Carregando tudo o que eu ainda não sabia que um dia seria capaz de sentir."

"Naquela manhã eu não conseguiria mais lembrar há quanto tempo atrás havia sido noite passada."

"Eu estava vivo, mas não conseguia." 

"Sem saber que o momento certo é sempre o mais rápido. Sem saber que as vontades se esvaem e tudo é tão depressa que, quando acordamos, já terminou. Os anos se passaram e nada foi."

"Era apenas uma questão de nunca mais." 

"Todos vão. Cedo ou tarde. Todos foram. Cedo ou tarde. Todos irão." 

"Os dois juntos vivendo uma vida que ninguém."

"Segurando forte na tua mão sem entender que todas as despedidas são solitárias. Segurando forte na tua mão sem entender que todas as vidas são solitárias e todos os olhares são solitários."

"Sabe o que é mais foda? É que depois dali ó, não tem mais nada."

"Eu tinha certeza que, longe dali, alguém vivia a minha vida. Talvez a minha vida me esperasse em algum lugar onde não havia mais como chegar."

"Todos os sábados para as noites que não existiram. Todas as noites para as festas que não aconteceram. Que nunca acontecerão. Todas as músicas para corpos que não dançam. Que nunca dançariam. Todos os olhares para vistas que não respondem. Que nunca responderão."

"Alguém inventou que existia amor e eu havia acreditado."

"Eu nunca saberei quantos anos envelheci naquela noite."

"Do outro lado da escuridão havia um lugar, mas eu ainda não sabia."

"Longe de mim mesmo eu chorava as distâncias que eu nunca teria vencido se ele não tivesse me levado. Por mais que corrêssemos, já estávamos longe. Por mais que sumíssemos em estradas desertas dentro da escuridão, nunca estaríamos longe o bastante. Nunca seria o suficiente para esquecer. É preciso certeza para partir."

"Eu e tu, em um passado que nunca tivemos. Eu e ele, em um futuro que não teríamos."

"Em algum lugar do mundo, éramos nós dois."

Geheimnis

Esse era um dos meus segredos, antes de compartilhar aqui. Foi. Agora é nosso.




quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manifestações

Sempre tive um espírito meio revolucionário, além de uma disposição enorme para lutar pela "causa", independente de causa fosse essa; bastava eu apoiá-la, que já entrava no meio para dar uma força. 
Minha adolescência foi marcada por críticas ao sistema, pequenos protestos e uma revolta interior imensa; eu não podia aceitar que as coisas imundas aconteciam bem debaixo do meu nariz e eu não podia fazer nada para mudá-las. Isso criou em mim um espírito de "viva la revolución!", e até hoje sou lembrada - de forma pejorativa - por adjetivos como "hippie", "comunista" e derivados. Não me importo e nunca me importei. Por mais que o tempo passasse, eu crescesse e minhas ideias amadurecessem, nunca descartei a importância da luta, da voz, do povo unido pela mudança. 

Sempre gritei aos quatro ventos que havia nascido na época errada. Gostaria de ter lutado contra a ditadura, de ter saído nas apoiando protestos, de ter participado da história e feito a diferença. Essa questão da "revolução" sempre foi muito marcada em mim, e não acreditei quando vi com meus próprios olhos todas essas passeatas e manifestações que estão acontecendo no Brasil. Fiquei extasiada, emocionada, não pude acreditar que tudo isso estava realmente acontecendo. Uma nação de jovens de "facebook" saindo do computador para fazer algo diferente: lutar. Lutar, gritar, batalhar, não se conformar, cobrar os próprios direitos. Mesmo as pessoas que nunca se interessaram por politica e foram, durante muito tempo, alheias ao que acontecia nesse país, estavam ali: acordando e abrindo os olhos. 

Achei lindo sair na rua e ver meninos e meninas até bem mais novos do que eu, amarrando a bandeira do Brasil no corpo, prontos pra gritarem a uma só voz. Emocionei-me com muito do que vi, e realmente ainda não acredito que estou vivendo algo parecido com o que sempre sonhei. Sou extremamente a favor das manifestações, do grito, da luta. Acredito que é só assim, acordando, juntando a multidão e saindo para as ruas, que o Brasil vai mudar e os políticos que estão no poder vão sentir o peso de uma nação e passar a tratar a população da forma digna que ela merece. Não são 20 centavos. É toda essa patifaria que já acontece há tanto tempo e que vêm nos engasgando. É PRECISO lutar. 

Porém, ontem, no meio de uma das manifestações, não fiquei muito feliz com o que vi. Muitas, muitas, muitas pessoas estavam ali a passeio, bebendo cerveja, vodka e ouvindo pagode. Nada contra quem bebe ou escuta pagode, mas pera aí... Isso, ao meu ver, destrói todo o caráter da manifestação. Precisamos fazer um trabalho sério para que sejamos ouvidos com seriedade. Não estamos ali a passeio; estamos ali para mudar o país. 

Quando menciono o grupo que estava bebendo e curtindo como se a manifestação fosse uma micareta, eu não me refiro a algumas pessoas, mas a MUITAS delas. Fiquei triste com o que vi, e até um pouco decepcionada. Sei que nem todos que vão para as ruas têm interesse real por política, mas acho super válido que a curiosidade pelo que está havendo tire as pessoas de casa e desperte nelas um sentimento de mudança. Mas daí a tornar algo tão sério, importante e necessário em uma festa são outros  tristes quinhentos. 

Gostaria que quem fosse para as ruas, fosse lutar. Fosse, sabendo o peso do que é estar ali, a importância da luta e não para transformar algo histórico em um movimento de esbórnia. Acredito que a mudança se inicia com os pequenos procedimentos, como levar a sério o que está sendo feito e vestir, de verdade, a camisa. 


quarta-feira, 12 de junho de 2013

Janelas



Todas as janelas escondem algum segredo; ou vários. 

Sou fascinada por janelas, em geral. Principalmente aquelas dos edifícios antigos do centro da cidade. 
Não sei quando essa paixão começou, só sei que eu poderia passar horas e horas do meu dia apenas olhando para elas, observando, durante a noite, o contraste das luzes com os edifícios. 


Olho para aqueles prédios do centro da cidade, e vejo suas janelas. Quantas pessoas já passaram por ali, viveram ali, amaram ali, morreram ali?! São tantas vidas que se cruzam naqueles pequenos pontos de luz espalhados que tornam charmoso o caos da cidade... 

Eu imagino os segredos e vidas que essas janelas escondem. E são tantas, pelo mundo inteiro... Queria eu ter um binóculo mágico para poder olhar dentro delas, ver o que existe e respira ali. Ver o que sim e o que não. Compartilhar de todas as histórias que sim e todas as histórias que não. 


Essas janelas que emanam luzes. Essas luzes que escondem vidas. Essas vidas que se escondem pelas janelas. E essas janelas que abrigam segredos.